Disciplina - Arte

Danças Africanas

Ao descrevermos alguns tipos de dança, optamos por falar mais das danças de Países Africanos de expressão portuguesa.
  • Ritmos Africanos: mistura de sons, ritmos e movimentos tradicionais com realce à espontaneidade dos corpos no passo certo ao som da música africana. (dançada em linha).
  • Danças a par: a proximidade de dois corpos num só movimento, e a inevitável sensualidade em unissom são notórias enquanto dançam.
  • Ritmos: ao ritmo do Semba, Funaná, Kuduro, Sakiss, Puita, Marrabenta, e outros sons da música folclórica, são dançadas em pequenas coreografias, trabalhando assim os movimentos da dança, o rebolar do bumbum (1), e a facilidade de juntar a agilidade dos braços, pernas e cabeça, num só movimento, culminando num trabalho de ritmo corporal.
Danças de alguns países do Continente Africano:

Angola
Cabo Verde
Cabo Verde
São Tomé e Príncipe
São -Tomé e Príncipe

A música e a dança em Angola

Os bailes em Angola eram organizados entre amigos que se definiam como "as turmas". Nesses bailes dançavam ao som dos instrumentos como a dikanza (1), o ngoma (2), o apito, a gaieta (3) e o acordéon, que eram os mais usados na época nos ritmos como o semba, a rebita, a kazukuta kabetula, os rumbas e muitos outros tocados nos anos 50/70, ao qual chamamos " música e dança dos cotas" (4). Nesta época, eram consumidos outros gêneros de música, adaptados ao nosso estilo de dança; muitas fusões foram feitas em relação aos ritmos provenientes de outros continentes, resultando nos estilos como o Bolero, os Tangos, as Plenas e tantos outros sons, que eram "soletrados nos pés" (5) de quem sabia dançar.

A boa dança era praticada nos bairros suburbanos de Luanda, nas ruas e nos quintais. Tais estilos chamados outrora "dança dos operários" ou dos marginais eram as dançadas pelos grandes farristas (6). Depois do quintal foram levadas para as salas de bailes, deixando de ser somente dos operários, pois a pequena burguesia também já dançava, alguns escondidos, por ainda ser uma dança malvista. Ao som do semba (7) era dançado o semba, também chamado de umbigada, que deu origem ao samba brasileiro. Os bailes frequentados pelas "turmas" eram chamados as boas " kizombadas" (8) ou "festas de quintal".

Nos anos 80 deu-se uma revolução nos estilos musicais e na dança. Muitos nomes surgiram e outras fusões aconteceram: a dança semba passou a ser chamada kizomba, que significa "festa", passando de expressão linguística à dança. A entrada do zouk influenciou muito o estilo musical que perdeu a sua raiz e até foi chamado semba-zouk, elemento que gerou grande polêmica, mas que ainda continua com o nome de kizomba, mas que também já tem um corpo como música e dança kizomba. O zouk love e a tarrachinha, têm dado outros estilos na forma como dançamos nos bailes, porque os movimentos sensuais são concêntricos na sensualidade, no rebolar das ancas com movimentos muito sensuais.

Nota: 1 - dikanza (reco-reco); 2 - ngoma (batuque); 3 - ngaieta (gaita); 4 - cotas (mais velhos); 5 - soletrado nos pés (dançar como se estive escrevendo); 6 - grandes farristas (homens de festas); 7 - semba (estilo de dança e música angolanos); 8 - kizombadas (grandes festas).

  • Kizomba: é uma terminologia angolana da expressão linguística Kimbundo, que significa "festa". A expressão Kizomba, como dança, nasceu em Angola nos anos 80, em Luanda, após as grandes influências musicais dos Zouks, e com a introdução das caixas rítmicas drum-machine, depois com os grandes concursos que invadiram Angola. Desde esses eventos a expressão se manteve, passando pelo Cavalinho, e o kizomba corrida. Também nesta época apareceram as kizombas acrobáticas dançada por dois rapazes, mas também é de salientar que as grandes farras (1) entre amigos nos anos 50/70 eram chamadas Kizombadas" (2) porque nesta altura não existia kizomba como expressão bailada e nem musical. Voltando aos anos 50/60, em Angola, já se dançava Semba, Maringa, Kabetula, Kazukuta, Caduque, que deu origem a Rebita e a outros estilos musicais tipicamente de Angola. Vale destacar que outros estilos provenientes de outros continentes também influenciaram a música e a dança, como o Tango, a Plena o Merengue etc. Estes eram dançados nas grandes farras já ao estilo angolano. Estes estilos de dança, outrora eram chamadas danças da "Umbigada" ou danças do "umbigo", tinham influências de uma dança portuguesa que se chama "Lundum" (3), que também era dançada a pares, mas foi proibida de ser dançada porque era considerada dança erótica. Nessa época haviam pessoas que eram conhecidas  por serem grandes dançarinos desses estilos e que levaram estas danças aos bailes, como Mateus Pele do Zangado, João Cometa, Joana Perna Mbunco e Jack Rumba. Eles eram os mais famosos, porque ao dançarem escreviam no chão as passadas (4). Eram notórias suas exibições ao ritmo do Semba. As passadas como o corridinho, a meia-lua e as saídas laterais eram as mais usadas pelos cavalheiros.
1 - Farras (festas)
2 - Kizombadas (grandes festas)
3 - Lundum, dança da umbigada portuguesa proibida na época
4 - Coordenação de passos

  • Kuduro: estilo de música e dança Angolana. Dança recreativa de exibição individual ou em grupo. Fusão da música batida, com estilos tipicamente africanos, criados e misturados por jovens Angolanos, entusiastas e impulsionadores do estilo musical, adaptando-se a forma de dançar, soltando a anca para os lados em dois tempos sutilmente, caracterizando o movimento do bailonço duplo. Da dança Sul-Africana denominado "Xigumbaza", que significa confusão, que era dançada pelos escravos mineiros enquanto trabalhavam mudos e surdos. Só as vozes das botas se faziam ouvir como um canto de revolta. Adaptando-se ao estilo musical Kuduro, nasce o Esquema ou Dança da Família, por ser dançado em grupo, utilizando o mesmo passo varias vezes em coreografia coordenada pelos participantes na dança. Dançada normalmente em festas ou em discotecas.
  • Rebita: é um gênero de música e dança de salão angolana que demonstra a vaidade dos cavalheiros e o adorno das damas. Dançada em pares, em coreografias coordenadas pelo chefe da roda, executam gestos de generosidades, gesticulando levemente, marcando o compasso do passo da massemba (1). O charme dos cavalheiros e a vaidade das damas são notórios; enquanto dança, se vai desenvolvendo no salão as trocas de olhares e os sorrisos entre o par. É dançada em marcação de dois tempos, através da melodia da música e o ritmo dos instrumentos.
  • Semba: é uma dança de salão angolana urbana. Dançada a pares, com passadas distintas dos cavalheiros, seguidas pelas damas em passos totalmente largos, onde o malabarismo dos cavalheiros conta muito a nível de improvisação. O Semba caracteriza-se como uma dança de passadas. Não é ritual nem guerreira, mas uma dança de divertimento, principalmente em festas, dançada ao som do Semba.
  • Kazukuta: é a dança por excelência, que é de sapateado lento, seguido de oscilações corporais, firmando-se o bailarino ora no calcanhar ora na ponta dos pés, apoiando-se sobre uma bengala ou guarda-chuva. Os tocadores usam instrumentos como latas, dikanzas, garrafas, arcos de barril e, para algumas variações rítmicas, a corneta de latão e caixa corneta. Os bailarinos trajam-se de calças listradas e casacas devidamente ornamentadas, representando alguns postos do exército, cobrindo o rosto com uma máscara, representando alguns animais, para melhor caricaturar jocosamente o inimigo (o opressor).
  • Kabetula: é uma dança carnavalesca da região do Bengo, exibida em saracoteios bastante rápidos, seguidos de alguns saltos acrobáticos. Os bailarinos apresentam-se vestidos de camisolas, normalmente brancas, ou de tronco nu de duas Ponda, saia feita de lenços de cabeça em estilo retangular fixada por uma Ponda (cinta vermelha ou preta), amarrando um lenço na cabeça e outro no pulso, utilizando também um apito para a marcação da cadência rítmica do "comandante".
Fonte: Revista Carnaval - A Maior Festa do Povo Angolano, de Roldão Ferreira, editado pelo Governo da Província de Luanda, Direção Provincial da Cultura, 1ª Edição, 2002, p. 18-27 - Kazukuta e Kabetula.
O texto de Kizomba foi redigido por Pedro Tomás (Petchu) bailarino e Lito Graça (músico).
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A música e dança em Cabo Verde


Os bailes em Cabo Verde tinham e têm uma função fundamental na organização de toda a comunidade à volta de momentos de convívios e confraternização -"quando dançamos ficamos e felizes"- dizia um velho conhecido. As músicas estão ligadas por um cordão bem forte, derivado talvez da relação muito estreita das suas origens primordiais. Os bailes eram animados por grupos acústicos com violino, violão, cavaquinho, bandolim ou banjo, que mantinham uma relação estreita com o lançador que com os seus passos e momentos de improvisação influenciava e acompanhava o músico solista na sua maneira de tocar e este, por sua vez, a ele. Assim nasceram nas salas e nos terreiros músicas e danças que hoje fazem parte do panorama cultural de Cabo Verde. É claro que a dança também teve transformação, que acompanhou os tempos e a mudança de mentalidade, como também teve influências exteriores, de fraca representatividade. Aquilo que era gosto de dançar, tornou-se, com o tempo, gosto pelo sensual, pelo ligeirismo e a banalidade que atinge por vezes o vulgar. É de realçar que algumas danças cabo-verdianas acabaram por cair em desuso, perdurando somente o gênero musical correspondente, como é o caso do Landum. As danças de pares (Coladera, Morna, Funaná, Mazurca) "são danças em que o homem possui, como quase toda a cultura do mundo da dança, o cavalheiresco modo de dirigir os passos a seu belo gosto. A sequência dos passos está dependente do virtuosismo dos dançarinos e, de certa maneira, do espaço da sala".
  • Morna: é o estilo mais lento da dança e que mais traduz o sentimento cabo-verdiana, como, por exemplo, a tristeza, a nostalgia e os problemas existentes. Dança-se em dois estilos essenciais, que são estilo lento e mais virtuoso, ou seja, " talvez mais vivo e dinâmico", que se chamara de "estrimbolca", que é à base de contratempos (talvez a origem da dança Coladera terá surgido neste andamento, estilo lento fazem as seguintes marcações: os passos são feitos em marcação quaternário (dois passos à frente, dois passos atrás).
  • Coladera: é um estilo mais vivo que a Morna, tem cadência quaternária, em que a relação do cavalheiro e da dama é feita junta, num arrastar de pés, com momentos de improvisação do cavalheiro que se afasta sobre o olhar da dama (1).
  • Funaná: gênero de música e dança cabo-verdiana característico da ilha de Santiago, que tradicionalmente animava as festas dos camponeses. É a mais frenética e rápida das danças de pares de Cabo Verde, geralmente acompanhada de uma concertina, onde o ritmo é produzido pelo esfregar de uma faca numa barra de ferro. Nesta dança o cavalheiro joga sobre o ritmo uma base andante de longos solos compostos por momentos fortes de pausa /exaltação até ao auge ou "djeta", gritos, exibindo a todos a sua virilidade e dotes de grande dançadores. O Funaná é conotada como dança de transe.
  • Contradança e Mazurca: são danças de grupo importadas das cortes europeias, que geralmente tinham na base estrutura coreografadas com mandadores, e que acabaram por sofrer alterações ao chegarem ao terreiro. Na Mazurca de três tempos, alegre e sincopado, o papel dos pares está intimamente ligado à movimentação em grupo. São gêneros dançados sobretudo nas ilhas Santo Antão, Boavista e São Nicolau.
  • Kola San Jon: jogo dos tambores e dos apitos no dia de São João, ligado ao ritual da fertilidade da terra no solstício de verão. Os pares batem-se cadencialmente entre si. Dança da Umbigada.
Fonte: Texto de António Tavares (Bailarino Coreógrafo).
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São-Tomé e Príncipe

  • Ússua: dança de salão, de grande elegância e finura (uma espécie de mazurca africana), em que os pares são conduzidos por um mestre de cerimônias ao ritmo lento do tambor, do pito daxi (flauta) e da corneta. Todos os dançarinos usam trajes tradicionais: as mulheres saia e quimono, xale ou pano de manta; os homens trazem chapéus de palhinha e usam no braço uma toalha bordada (que serve para limpar o suor do rosto).
  • Dexa: típica da ilha do Príncipe de raízes angolanas. Ao ritmo de um tambor e de uma corneta, diversos pares executam elegantes danças de roda. As letras são quase sempre humorísticas, ou mesmo de escárnio, e implicam uma réplica da parte do visado. A dexa é dançada durante horas inteiras, apenas com ligeiras modificações na sua toada musical.
  • Puita: provavelmente com raízes Angolanas, a puita é uma dança fortemente erótica, em que o tambor avança de forma frenética, obsessiva, sensual, pela noite dentro. Homens e mulheres formam filas indianas e, com alguns rodopios, fazem entrechocar os corpos de forma sexualmente explícita. Quando um parente deixa este mundo, é de praxe dançar, em dias de nozado, uma puita em sua homenagem. A falta de cumprimento a este ritual pode ocasionar desventuras na família. Mas a puíta é tocada em muitas outras ocasiões, sendo uma das formas de música mais populares em S. Tomé. Parecido com a puita, mas encomendado com outros objetivos, o d'jambi é um ritual com poderes curativos, semelhante à macumba brasileira. Os curandeiros, ao dançarem, entram em transe, submetendo então o doente a práticas rituais onde são invocadas figuras sobrenaturais e estabelecidos contatos com espíritos de indivíduos falecidos. São também frequentes fenômenos de insensibilidade ao cansaço e à dor (dançada durante a noite inteira, caminhar sobre brasas, ferir o próprio corpo, etc.). As autoridades coloniais e religiosas tentaram sempre proibir os d'jambi devido às suas óbvias conotações com a feitiçaria e os rituais animistas do continente africano.
  • Bligá (ou jogo do cacete): é um misto de dança e jogo lúdico, em que a destreza e o vigor físico do jogo do pau transmontano, aliam-se a uma sofisticada corporalidade e gestualidade que fazem por vezes lembrar certas artes marciais orientais. O bligá (que significa brigar) foi certamente uma das danças que deu origem a capoeira. Este estilo era usado pelos escravos, que usavam como uma arte de autodefesa sem que as autoridades percebessem; os gestos são, a maior parte das vezes, mimados (transformando assim a ação em representação), em vez de serem executados explicitamente.
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Fonte: Texto parcialmente fornecido por uma estudante Africana (Mirian Vissolela).
Disponível em: dancasafricanas.com
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